Amigos e parentes de policiais mortos fincaram cartazes e faixas na praia de Copacabana: reivindicações a favor da categoria
Policiais civis e militares protestaram ontem contra a violência na orla da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. De acordo com os organizadores do ato, mais de 100 agentes foram mortos em serviço ou de folga e cerca de 300 foram baleados em 2014. Depois de fincarem cruzes pretas na areia da praia, os manifestantes cobraram ações do poder público em relação aos ataques cometidos contra agentes.
Durante caminhada até o Leme, o grupo entregou carta aos pedestres com oito reivindicações da categoria, como a transformação em crime hediondo — que possuem penas mais duras — de atos contra a integridade física de policiais e parentes. Em 2000, tramitou proposta com esse conteúdo na Câmara dos Deputados, mas acabou arquivada.
Para o especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori, professor da PUC Minas, a penalização mais severa a crimes contra policiais deve se restringir a crimes cometidos contra vítimas que estejam em serviço. Os manifestantes querem também que o poder público dê assistência completa a parentes de policiais mortos.
Condições
“O que é fundamental (no combate ao crime contra policiais) é que o poder público invista no suporte a esses agentes para o confronto com criminosos. É um trabalho de treinamento, com atualizações frequentes de técnicas de autodefesa e de abordagem, por exemplo”, sustenta Sapori. Os manifestantes pedem ainda a blindagem dos contêineres.
Um dos organizadores do protesto foi o movimento Rio de Paz, que cobra melhores condições de trabalho para os policiais. “Salários baixos, familiares desamparados, péssima condição de trabalho, vulnerabilidade à morte, são muitas as violações de direitos sofridas pelos nossos policiais militares”, reclama o grupo em nota publicada em uma rede social.
Também participaram do ato parentes de vítimas, como a mãe do soldado Anderson de Sena Freire, assassinado por criminosos em serviço, quando passava pela Avenida Brasil, no subúrbio do Rio de Janeiro, no fim de novembro. Na noite de sexta-feira, outro policial foi morto. Ari Rodrigues Pestana Júnior, lotado no 41° BPM (Irajá), estava lavando o próprio carro na porta de casa, em Olaria, também no subúrbio, quando homens passaram em um veículo e dispararam contra ele.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pela organização não governamental Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e atualizado no mês passado, em todo o Brasil, 490 policiais foram assassinados em 2013, 43 a mais do que 2012. A média no país é 1,34 policial assassinado por dia. Desde 2009, 1.170 agentes foram mortos.
A maioria das mortes (75,3%) ocorreu quando os agentes não estavam em serviço. O Rio de Janeiro é o estado com maior número de casos, com 104, seguido por São Paulo (90) e Pará (51). Entretanto, as polícias mataram, em serviço, 2.212 pessoas em 2013. Em média, são 6,11 mortos por dia.
A Secretaria de Segurança do Rio não foi localizada para comentar o protesto. No início deste mês, depois de cinco agentes serem assassinados no fim de novembro, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que não acredita haver “caça a policiais” no estado. E cobrou que o combate ao crime não seja responsabilidade apenas da polícia, mas também feito com ações sociais. “Na minha visão, isso não é só um caso de polícia, tem de envolver ações sociais, Ministério Público e Justiça”, afirmou Beltrame.
Na manhã de ontem, cerca de três mil pessoas fizeram uma caminhada na orla de São Luís em protesto contra a morte de policiais. Os manifestantes exigem um posicionamento do estado contra a impunidade. Só neste ano, 15 policiais foram mortos de maneira violenta na cidade.
100 policiais foram mortos este ano no Rio de Janeiro
Fonte: Correio Braziliense